Pai da deputada Daniella recebia depósitos oriundos de contratos da Pilares do Saber, aponta Polícia Federal

As investigações da Polícia Federal mostram que os repasses de recursos ligados aos contratos suspeitos da Pilares do Saber não iam apenas para operadores e empresários. Parte do dinheiro foi parar diretamente na conta de Rogério Roriz Menezes, pai da deputada estadual Daniella, e irmão de Hugo Fabiano Menezes, apontado como o principal operador do esquema, que é tio da deputada. Esse elo familiar, segundo os investigadores, ajudava a dar aparência de legalidade a valores que circulavam fora do sistema formal de contratos e licitações.
Os documentos analisados revelam que, em janeiro de 2022, Rogério recebeu transferências feitas por Hugo, em duas operações realizadas nos dias 11 e 12 daquele mês, que juntas somaram R$ 70 mil. Pouco depois, os extratos indicam um repasse adicional de R$ 100 mil, elevando o montante total para R$ 170 mil enviados por Hugo ao pai da deputada.
Os investigadores também recuperaram áudios em que interlocutores discutem depósitos realizados por Hugo em diferentes bancos, comparando lançamentos no Bradesco e no Banco do Brasil, e confirmando que os valores haviam sido creditados. A menção explícita a “66 mil na conta do Banco do Brasil” e a um depósito de “100 mil no Bradesco” reforça a tese de que Rogério era um destinatário direto desse fluxo financeiro, funcionando como ponto de apoio para a movimentação de valores do esquema.
O envolvimento de Rogério não se limita à condição de pai da deputada. A proximidade com Hugo, seu irmão, mostra que o núcleo familiar de Daniella estava inserido no circuito de repasses. A origem do dinheiro, segundo a PF, está em contratos milionários da Pilares do Saber com prefeituras do Maranhão, pagos com recursos do Fundeb. Parte desses valores era desviada e transformada em depósitos diretos, como os feitos na conta de Rogério.
O destino do dinheiro não aparece detalhado nos relatórios, mas os investigadores sugerem que a triangulação tinha como objetivo abastecer não apenas operadores e empresários, mas também o entorno da própria deputada. Nas mensagens analisadas, quando interlocutores falam em valores “pra ela”, o contexto aponta para a cobrança de percentuais atribuídos a Daniella. A entrada do pai nesse circuito de transferências é interpretada como um mecanismo para ocultar a destinação real do dinheiro, beneficiando politicamente e financeiramente a parlamentar.
Mensagens trocadas entre Rogério e Hugo Fabiano Menezes, operador do esquema, mostram a movimentação direta de recursos para a aquisição de um veículo na concessionária Umuarama Toyota, em Bacabal/MA. Em uma das conversas, Rogério questiona: “Hugo tu mandou o dinheiro para o rapaz”, seguido de “Estou no banco”, o que indica a realização do pagamento. A própria PF relaciona esses diálogos ao depósito de valores para a compra de um carro novo
Em síntese, os depósitos em nome de Rogério expõem uma face sensível do caso: o uso de familiares próximos para dar cobertura ao fluxo de dinheiro do esquema. Hugo, tio da deputada, aparece como elo de distribuição, enquanto Rogério, seu pai, surge como recebedor de transferências expressivas, o que reforça a suspeita de que o núcleo familiar de Daniella estava diretamente inserido na engrenagem financeira da Pilares do Saber.
Folha do Maranhão