ONG investigada por fraude do INSS aponta igreja como sede de loja
Organizações criaram CNPJs para funcionar como “laranja”; um dos empreendimentos funciona no mesmo lugar de igreja evangélica

Samuel Chrisostomo do Bomfim Junior, contador da Confederação Nacional dos Agricultores e Empreendedores Familiares (Conafer), instituição envolvida na fraude do INSS, apontou o endereço da Igreja Evangélica Pentecostal Ministério Visão de Deus, no Recanto das Emas, como sede da sua empresa.
Nomes por trás da Conafer e da Associação de Aposentados do Brasil (AAB), ambas investigadas por envolvimento no caso que ficou conhecido como a farra do INSS, criaram diversos CNPJs distintos, com capitais acima de R$ 100 mil, que operam no mesmo conjunto de endereços no Distrito Federal.
Um desses empreendimentos, nomeado como Solution, foi aberto por Samuel Chrisostomo do Bomfim Junior – contador da Conafer – e supostamente funciona no mesmo local de uma Igreja Evangélica, fundada por uma das sócias da AAB, identificada como Lucineide dos Santos Oliveira, no Recanto das Emas.
O Metrópoles esteve no endereço e encontrou apenas a instituição religiosa, erguida entre um centro catequético e um terreno baldio. Apesar disso, segundo dados da Receita Federal, a loja de Samuel está ativa no espaço, configurando a suspeita de ser uma empresa fantasma.
Outros 10 CNPJs também vinculados à dupla, bem como a um terceira pessoa ligada ao presidente da Conafer – o assessor Cícero Marcelino de Souza Santos –, supostamente funcionam na parte superior de um sobrado na região administrativa.
Apesar de os envolvidos terem indicado na Receita Federal o endereço como sede das empresas – que prometem oferecer desde comércio varejista a locação de carros e atividades de apoio à agricultura –, a fachada do pequeno escritório exibe apenas chamada para dois desses empreendimentos: a Expresso e um segunda companhia também apelidada como Solution.
Um outro CNPJ registrado no nome de Lucineide dos Santos Oliveira, a sócia da AAB, está localizado na Quadra 403 Conjunto 19 do Recanto das Emas. A reportagem esteve no endereço e ouviu de testemunhas que apenas uma tapiocaria funciona há anos no local.
Além de pertencerem a integrantes de instituições diferentes e dividirem um único espaço, essas empresas carregam um outra curiosidade: a maioria tem como contato principal o mesmo endereço de e-mail.
Convocado a prestar depoimento na CPMI que apura as fraudes do INSS, Cícero Marcelino chegou afirmar que lucrava “uns trocos” com o dinheiro que deveria ser destinado aos aposentados e pensionistas. O homem admitiu, ainda, que abriu empresas para prestar serviços a pedido do presidente da Conafer.
Cícero também contou que recebia planilhas de pagamentos para as entidades da Conafer e os repassava, mas negou conhecer Samuel Chrisostomo, apesar de supostamente conduzir empresas no mesmo local que ele.
Durante a CPMI, as empresas de Cícero foram apontadas como empreendimentos laranja. “A única coisa que estou vendo aqui nesta CPMI é que as pessoas que os sindicatos ajudam são os próprios dirigentes e seus familiares, as empresas dos dirigentes, dos familiares, ou dos laranjas e familiares dos laranjas. E você é um laranja, suas empresas são empresas laranja”, disse a deputada Adriana Ventura (Nov-SP).
Metrópoles



