Aos 12 anos, ela criou um negócio com o apoio dos pais – e projeta faturar R$ 11 milhões em 2025

A amazonense Malu Lira já publicou 20 livros e levou educação financeira a mais de 50 mil estudantes em 200 escolas pelo país.
A amazonense Malu Lira sempre foi sonhadora e inquieta. Na infância, gostava de observar, questionar e entender como o mundo funcionava. Dizia que gostaria de viajar e estudar fora, mas aprendeu com os pais que nada vem de graça. É preciso estudo, dedicação e disciplina. “Entendi que o dinheiro não é um vilão, mas um aliado para abrir portas e realizar sonhos. E como em casa, a regra era de presentes só em datas especiais, se eu quisesse outra coisa tinha que poupar”, conta. A partir daí, passou a vender pulseiras, colares de miçanga e até os desenhos que produzia, além dos bolos feitos pela mãe. Não se tratava apenas de obter retorno financeiro, mas de conhecer mais sobre esse universo e descobrir que podia construir o próprio caminho.
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O que ela não imaginava era que esse caminho seria trilhado tão rápido. Hoje, aos 15 anos, é autora de 20 livros e está à frente do Grupo Malu Finanças, composto por três empresas e administrado com o apoio direto dos pais. Em 2024, o negócio faturou R$ 2,6 milhões e projeta superar R$ 11 milhões em 2025. Com a proposta de ressignificar a relação de crianças e jovens com o dinheiro, a metodologia já chegou a mais de 200 escolas, impactando em torno de 50 mil estudantes.
Como tudo começou
Em 2018, quando Malu tinha nove anos, a família deixou Apuí, município com pouco mais de 21 mil habitantes no Amazonas, e se mudou para Manaus. Na capital, com mais acesso à internet, complementou as leituras com vídeos sobre finanças e logo notou que não havia nada voltado ao público infantil. “Decidi compartilhar o que aprendia com os colegas da escola, mas a maioria achava ‘chato’, e os professores diziam que dinheiro não era assunto para nós”, lembra.
Incomodada, pesquisou estatísticas sobre pobreza e endividamento e concluiu que, se o tema fosse ensinado cedo, poderia mudar realidades. “Tive a ideia de gravar vídeos curtos explicando conceitos básicos – de criança para criança, mas no início meus pais tinham receio de eu estar na internet”. O que mudou essa visão foi a consulta com uma neuropsicóloga, recomendada pela escola. “Eu era muito ansiosa. Terminava as tarefas e ficava andando pela sala de aula para ajudar os outros estudantes ou puxar conversa.”
O diagnóstico foi de Altas Habilidades, condição em que indivíduos apresentam desempenho acima da média em áreas como a intelectual e a acadêmica. A médica explicou que as gravações poderiam ser uma forma de canalizar a ansiedade e estimular a criatividade. “Entendi por que não me identificava com meus colegas e que, às vezes, você vai ser diferente – e está tudo bem.” A partir daí, os pais abraçaram o sonho da filha.
Os vídeos chamaram a atenção rapidamente, e ela percebeu que os conteúdos digitais não chegariam às comunidades mais remotas do Amazonas. Um livro poderia romper essa barreira. Assim, aos 11 anos, escreveu Finanças para Crianças: além da mesada, e apresentou um plano detalhado de custos e prazos aos pais. O lançamento, organizado pela família com secretários de educação e gestores escolares, foi um sucesso. A venda chegou a 50 mil exemplares, dando início a uma turnê pela região.
Livros, negócios e impacto social
A obra abriu portas em escolas e bibliotecas, trouxe convites para palestras e levou à criação da Malu Finanças, administrada com o suporte do pai, professor; e da mãe, agente pública. Eles haviam se mudado para abrir uma consultoria educacional e decidiram investir também no projeto da filha. Atualmente, o grupo engloba três empresas – Malu Finanças Educação Financeira, responsável por palestras, parcerias e projetos sociais; Editora Fada Madrinha, para publicação de obras e aplicação da metodologia educacional nas escolas; e Editora Pena, dedicada à publicação de livros para concorrer a editais públicos, inclusive ao PNLD.
São 15 funcionários fixos, além de parceiros jurídicos, contábeis e editoriais, e um escritório em São Paulo para acelerar a expansão. Há também uma equipe pedagógica que garante a adequação dos materiais à BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Apenas no primeiro semestre de 2025, mais de 900 professores da rede pública receberam formação para aplicar a metodologia, que vai do Infantil ao Ensino Fundamental II.
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