Ciro Gomes e seu oportunismo cínico de parasitar a Direita
Ex-ministro de Lula de 2003 a 2006, Ciro Gomes busca apoio para ser governador do Ceará na base bolsonarista, a qual sempre combateu e se declarou inimigo.

Ciro Gomes é com certeza um dos mais controversos e caricatos personagens da política brasileira. Possuidor de excelente retórica, os quais projeta sofismas muitas vezes absurdos, e de um conhecimento sobre temas espinhosos dos bastidores da política, o “coroné” Ciro Gomes destacou-se como uma promessa promissora daquela safra de políticos forjados pela geração das “Diretas já” – que deu novo rumo para a Nova República pós regime militar.
Sua trajetória foi marcada por muitas polêmicas e posturas bem indigestas referentes a questões cruciais da política nacional. Começou em 1982 como candidato a deputado estadual pelo Partido Democrático Social (PDS), depois pulou para várias legendas tentando encontrar seu lugar. Já passou pelo PMDB (1983–1990), PSDB (1990–1997), PPS (1997–2005), PSB (2005–2013), PROS (2013–2015), PDT (2015–2025) e atualmente encontrou refúgio no PSDB, onde exerce o cargo de presidente estadual do partido no Ceará.
Agora o “Cirão da massa” resolveu garimpar espaço na… Direita. Isso mesmo! Recentemente Ciro Gomes filiou-se ao PSDB no Ceará e durante seu discurso fez cumprimentos elogiosos, cheio das pompas retóricas populismo político e com bastante entusiasmo ao deputado federal André Fernandes (PL-CE), com direito a aperto de mão e tudo, chamando o deputado de “jovem talento”. Vale lembrar que André Fernandes tem 27 anos e surpreendeu o eleitorado cearense nas eleições municipais em 2024, numa disputa das mais acirradas em capitais, ao perder o pleito para Evandro Leitão (PT) por 0,76 ponto percentual de diferença.
Essa aliança não agradou em nada o bolsonarismo raiz, que já manifestou abertamente a repulsa pelo Ciro Gomes. Segundo o deputado André Fernandes, o próprio Bolsonaro foi simpático ao apoio de Ciro e orientou, em maio deste ano, tal aproximação afim de compor uma frente única para o governo do Ceará e vencer o PT nas eleições (que é muito forte no estado). Porém, os quadros mais importantes da Direita bolsonarista foram prontamente contrários a esta estratégia, como a ex-primeira-dama Michele Bolsonaro. Ela afirmou que o senador Eduardo Girão (PL-CE) é o candidato apoiado pelo Bolsonaro e que o Ciro Gomes é um traíra. Esta postura da Michele tem lastro, pois basta lembrar do fato (dentre vários outros ocorridos) que expõe a verdadeira face do “coroné” Ciro Gomes. Por exemplo, Ciro em seu programa “Corte Ciro Games” disse que Bolsonaro é um “cidadão despreparado e absolutamente mentiroso” por falas do então presidente sobre a Amazônia.
Já em 2022 durante uma “live” com figuras histriônicas da Esquerda nacional, como Randolfe Rodrigues, Alessandro Molon, Jandira Feghali, Antônio Neto e Carlos Lupi (esse mesmo envolvido nas fraudes do INSS), Cirão proferiu suas bestiais verborragias atacando o então presidente Jair Bolsonaro, acusando-o de genocida, de assassino, de não ter construído hospitais de campanha, de não ter comprado vacinas e testes para covid-19, de não ter feito o isolamento radical e que o governo federal deveria “indenizar o povo pra ficar em casa” durante todo o período da pandemia – desprezando totalmente a responsabilidade com os cofres públicos e as consequências econômicas que se sucederam depois.
A relutância dos bolsonaristas com uma criatura como o Ciro Gomes ilustra que esta Direita nacional continuará ortodoxa quanto aos seus princípios. Já outra, os mais liberais, caminha para estratégias típicas da “Velha Política”: de ganhar eleições a qualquer custo, como fazem o PT e seus partidos satélites unindo-se a partidos do Centrão (inimigos ideológicos) para fins eleitorais e governamentais. A ausência do presidente Bolsonaro por sua situação atual e sua ausência ativa na articulação política pode favorecer certos acordos que não agradam a base conservadora do país. Há um preço caro que se paga por tais alianças e a história prova que alguns preços são impossíveis de se pagar.
Vale lembrar que Ciro Gomes passou de socialdemocrata para esquerdista ortodoxo (porém flexível quando convém) ainda nos anos 90, mantendo-se assim de forma inabalável e até com ares professorais, estampando uma arrogância bem singular de quem fala para ser obedecido. Ciro Gomes buscou ocupar os espaços destinados a outros ícones da Esquerda nacional, sobretudo quando do apogeu dos diversos escândalos de corrupção dos governos Lula e Dilma, dentre os quais o Mensalão e o Petrolão. O “coroné” achou a oportunidade de ouro para destronar seus então aliados do jacobinismo auriverde e colocar-se como o novo líder que irá pavimentar o caminho para a construção do tal “mundo melhor”. Porém, sempre foi preterido como líder desta Esquerda, pois nunca caiu nas graças da militância orgânica marxista – que o demoveu deste papel.
Após tantos casos de corrupção protagonizados pelo PT, Ciro pensou que a Esquerda estava “órfã”, desmoralizada e que precisava de um novo norte para se recuperar da mácula da corrupção endêmica que a assolava. Assim, acreditou que seria um novo Lula, um novo líder de massa que pudesse ser carregado nos braços do povo como um “pai dos pobres” mais refinado, mas a realidade é que a Esquerda sabe quem são seus líderes de massa e quais não são. Sabe das funções daqueles que apenas comandam grupos ou setores políticos que servem ao propósito da agenda esquerdista. A Esquerda sempre tratou Ciro Gomes como um “rottweiler” para o combate contra a Direita e fazer a defesa efusiva dos seus propósitos e ações. Este sempre foi o papel do Ciro Gomes. A Esquerda brasileira nunca o respeitou de fato, mas apenas o suportava como uma ferramenta necessária a ser usada a depender do contexto político.
É notório as diferenças conflitantes de tática e estratégia do “coroné” com a Esquerda brasileira. Ciro Gomes é um político que navega ali entre a esquerda mais radical e a centro-esquerda, caracterizando-se pelo nacional-desenvolvimentismo (com certas oscilações ali e acolá que lhe permita alguma zona de conforto diante do contexto político). Como não conseguiu ocupar o lugar na Esquerda tupiniquim que queria, resolveu assumir o papel de “Esquerda madura” ou “terceira via” à esquerda – uma espécie de socialdemocrata de aluguel – com críticas severas ao Lula e seus asseclas. Também não deu certo, piorando ainda mais sua imagem perante seus velhos camaradas.
Nesta nossa era digital em que informações e notícias são livremente disseminadas sem o filtro manipulador da grande mídia, onde as redes sociais se consagram como as novas Ágoras do debate público, essa nova “velha” postura do Cirão reflete algo peculiar que sempre fez parte de sua história política: o oportunismo cínico. Essa flexibilidade do ex-ministro do Lula o classifica como uma figura política controversa. Para alguns analistas, ilustra que Ciro Gomes é apenas aquilo que o contexto convém: se é a Esquerda no Poder…Ciro e de esquerda; se é a Direita no Poder… Ciro é de direita mais liberal. Mas e se é o Centrão no Poder? Ciro será Centrão desde criancinha, acreditem!
Tal postura do “coroné” já é percebida pela classe política desde sempre. A “terceira via” do Ciro Gomes não passa de um ponto de inflexão estratégica para persuadir eleitores, ainda mais estes que estão desesperados em virtude do contexto caótico que vivemos atualmente. Ciro explora isso para capitalizar politicamente pintando a si mesmo uma imagem de estadista moderno, mas travestido com os “novos” farrapos da Velha Política.



