De Pai para Filho

A indicação de Flávio Bolsonaro como pré-candidato do PL à Presidência, feita diretamente pelo pai, diz muito mais sobre a estratégia política da família Bolsonaro do que sobre o futuro do país.
Revela um veto explícito à própria esposa, Michelle Bolsonaro, alguém que, goste-se dela ou não, teria infinitamente mais apelo eleitoral do que Flávio.
E isso diz muito.
Porque, se a preocupação fosse vencer eleição, ou pelo menos disputar pra valer, o nome natural seria Michelle.
Ela tem carisma, tem base mobilizada, tem comunicação direta.
Flávio, por outro lado, no Senado só é conhecido por um dois motivos: pela rachadinha e ser filho do Bolsonaro.
Nenhuma grande pauta, nenhuma liderança nacional, nenhum protagonismo real. Apenas o DNA.
Esse movimento político só faz sentido dentro de uma lógica: preservar o próprio espaço político de Jair Bolsonaro, independentemente do que seja melhor para a direita, para a oposição ou para o Brasil.
Por quê?
Porque, se Lula vence, Bolsonaro segue existindo como contraponto automático. Mantém relevância, mantém um “inimigo” no poder e continua mobilizando sua base contra o PT.
Mas, se outro nome da direita vence — como Tarcísio, por exemplo — o quadro muda completamente. Lula e o PT virariam oposição, e Bolsonaro perde o papel central na política nacional. Ou seja: deixa de ser o principal polo do debate político.
E Bolsonaro sabe disso.
Por isso, indicar o próprio filho como candidato não é apenas um lance eleitoral. É uma forma de blindar sua influência, impedir que novas lideranças cresçam à direita e manter tudo sob controle familiar.
O problema é que essa estratégia não leva em conta o interesse do país, nem a necessidade de uma oposição renovada, competitiva e preparada. É um cálculo pessoal, familiar — não nacional.
Digo mais…
O impasse no Ceará, há memos de uma semana, não apenas expôs divergências dentro do PL, ele escancarou um racha direto na família Bolsonaro.
O confronto público entre Michelle e Flávio, provocado pela intervenção da ex-primeira-dama no palanque cearense, acabou criando exatamente o ambiente que definiu o desfecho da disputa interna.
Do racha, emergiu um beneficiado imediato: Flávio Bolsonaro, tradicionalmente lembrado pelo caso das “rachadinhas”, tornou-se justamente o “candidato do racha”.
A crise que começou no Ceará atravessou o núcleo familiar e desembocou na escolha antecipada do senador como nome do PL para a corrida presidencial.
Ou seja, o impasse no Ceará criou um racha tão perfeito que até parece ter sido feito sob medida para Bolsonaro escolher o candidato.
Da redação



