Política

Fraude nas aposentadorias: Weverton Rocha se reuniu com ‘Careca do INSS’ e admite ter indicado ex-diretor do instituto que é investigado pela PF

Um dos principais personagens do escândalo das fraudes em aposentadorias, o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, era figura carimbada nos círculos políticos de Brasília. Um dos nomes com quem o empresário costumava se encontrar era o senador Weverton Rocha PDT, aliado do ex-ministro da Previdência Carlos Lupi. Os dois se reuniram no Congresso e no restaurante do Senado, que fica no prédio anexo à casa parlamentar da capital federal, durante um “churrasconecte” (churrasco e conexão).

Os encontros foram confirmados por assessores do senador e pelo próprio empresário. Antunes disse ter se reunido com Weverton em pelo menos duas ocasiões no Congresso. Segundo ele, o senador apresentou-lhe o então diretor de benefícios do INSS, André Fidélis — que chegou ao cargo indicado pelo próprio Weverton. O parlamentar admite que “apadrinhou” o nome de Fidélis, mas diz que a relação com Antunes foi “estritamente institucional”.

— Conheci o senhor Antônio Camilo, popularmente chamado de Careca, em eventos realizados no Congresso Nacional. Como senador da República, recebo diversas pessoas em meu gabinete — disse Weverton. — No caso do senhor André Fidélis, ele foi indicado por mim ao cargo de diretor de benefícios do INSS, e teve uma atuação técnica e republicana durante o período em que exerceu sua função. O desligamento do cargo se deu por decisão exclusiva do governo federal.

Antunes é apontado como o chefe de uma quadrilha especializada em fraudar aposentadorias com o uso de documentos falsos. A organização, segundo a Polícia Federal (PF), cobrava de R$ 15 mil a R$ 20 mil por aposentadoria ilegal. Segundo a PF, a quadrilha causou prejuízos de R$ 2 bilhões aos cofres da Previdência.

O nome do empresário aparece em diálogos interceptados pela PF, em que ele se refere a reuniões com Weverton Rocha. Em uma das mensagens, diz que teve encontro com o senador para tratar da liberação de recursos de emenda parlamentar. A conversa foi obtida com autorização da Justiça.

O senador, que é presidente do PDT, partido de Lupi, está sob investigação do Supremo Tribunal Federal (STF) por suposto envolvimento no escândalo. O inquérito foi instaurado a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Weverton é defensor do uso medicinal da cannabis para fins medicinais*. Procurado via advogados, Antunes não comentou.

O parlamentar do PDT, que nega ser investigado, é um dos líderes do grupo político mais próximo de Lupi, atual ministro da Previdência. Devido à sua influência no Congresso, ele foi sondado para integrar a comitiva que representará Luiz Inácio Lula da Silva e que irá à China na semana passada.

No governo de Dilma Rousseff, Weverton foi titular da pasta do Ministério do Turismo. No ministério, defendia pautas de superação de desvios e de fraudes. Antunes é um dos 16 empresários investigados pela PF.

RELAÇÃO COM DIRETOR

Diretor de benefícios do INSS, Weverton teve contato com o então diretor indicado por ele, André Fidélis, antes da operação da Polícia Federal (PF) que resultou na sua saída. A época, o senador chegou a fazer elogios públicos à atuação do diretor, que era responsável pela análise dos pedidos de aposentadoria e de pensão.

— Ele teve uma atuação técnica, limpa e transparente. Mas seu desligamento se deu por decisão exclusiva do governo — disse Weverton.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que irá pautar com urgência a tramitação de uma proposta que impõe novas regras ao sistema de aposentadorias do INSS, visando coibir fraudes.

— Comuniquei aos líderes da Câmara dos Deputados que pautaremos na próxima semana, com urgência, o projeto de lei que trata de regras mais rígidas para aposentadorias e pensões — disse Motta.

A proposta do autor Hugo Motta, que já recebeu apoio do PSD, PL e União Brasil, altera a Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência Social.

O texto propõe, por exemplo, a exigência de comprovação de residência, e a presença física do requerente, entre outras exigências.

Os advogados de Antunes, que representa um grupo de empresas de consultoria e advocacia, afirmam que ele nega as acusações de fraudes e que irá colaborar com as investigações. A defesa também declarou que vai provar a inocência do empresário.

A reportagem não conseguiu localizar André Fidélis para comentar. Ele foi exonerado do cargo após o início das investigações.

Blog Diego Emir

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