Guerra entre facções é o retrato mórbido da incompetência da segurança pública
Em mais uma noite de guerra entre facções a cidade vai cultivando o trágico estigma de prisioneira de uma realidade de violência

A noite de São Luís viveu um cenário de terror em virtude da guerra entre facções criminosas na cidade. De acordo com a Polícia Militar houve várias ocorrências violentas em alguns bairros da grande ilha, como Vila Janaína, Cidade Olímpica, Residencial Maria Aragão, Vila Vitória, e no bairro do Monte Castelo (com um homicídio registrado).
Na madrugada desta quinta-feira (23) ocorreram novos disparos de arma de fogo na avenida Santiago, no bairro Vila Vitória, nas proximidades de um comércio. Ou seja, a noite foi tensa e agitada, promovendo um alto fluxo de viaturas e de policiais patrulhando a cidade, sobretudo nas periferias. Lembrando que na terça-feira (21), no bairro Cidade Operária, Eduardo Lemos Martins (de 19 anos) foi assassinado em meio a um ataque de faccionados.
Em nota o governador Carlos Brandão afirmou que o efetivo policial foi reforçado, que vai agir com rigor a qualquer ameaça à ordem pública, que a força policial segue atuando com apoio da Inteligência, com firmeza, sem trégua para manter nosso estado seguro e que o combate às facções é um desafio nacional. Uma nota bastante previsível.
Já Maurício Martins, secretário da Segurança Pública do Maranhão, disse que não será tolerada qualquer tentativa de intimidação ou desordem, afirmando que as investigações foram intensificadas para prender líderes e integrantes de grupos criminosos. Na mesma esteira, a Polícia Militar do Maranhão divulgou nota nesta noite de quarta-feira salientando o reforço do policiamento na região da Cidade Operária e em toda a Grande São Luís.
Algumas regiões sofreram o “toque de recolher” implementado pelas facções, promovendo o fechamento do comércio local e de escolas, prejudicando toda a comunidade. Nesta quinta-feira (23) a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) anunciou a suspensão das atividades acadêmicas no Campus de São Luís por dois dias para preservar a segurança da comunidade universitária, devido a onda de violência e confrontos de facções criminosas em diversos locais da capital maranhense.
A atuação desmedida das facções criminosas no Maranhão é reflexo da incompetência e falta de planejamento da segurança pública do país, cuja consequência é o aumento exponencial da violência que pune toda a população, colocando-a prisioneira do crime.
Esta escalada da criminalidade no Brasil, sobretudo no Nordeste, é um trágico somatório de sucessivos fracassos operacionais que englobam governos municipais, estaduais e federal, e, principalmente, da apatia do Legislativo e do Judiciário. Há uma clara deficiência na aplicação das penalidades, na sua execução e no seu resultado para a sociedade, já que existem uma série de recursos e janelas legais que, na prática, enfraquecem a punição de criminosos (o que causa a indigesta sensação de injustiça).
Vivemos um estigma mórbido cunhado pela inoperância dos gestores públicos no combate efetivo contra o crime organizado, que continua ampliando seus tentáculos de terror contra os mais vulneráveis – justamente aqueles que sobrevivem nas periferias do país. Notas ou declarações públicas são ferramentas insípidas e impalatáveis que nada resolvem, mas apenas dão uma satisfação pública. Enquanto não encarar o combate contra o crime organizado como política de sobrevivência e proteção social a violência alcançará patamares incontroláveis de barbárie e selvageria.