TCU: Beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3,7 bilhões com bets em um mês
Auditores identificaram que parte das transações pode estar ligada ao uso indevido de CPFs de beneficiários

Um levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou movimentações suspeitas envolvendo beneficiários do Bolsa Família e plataformas de apostas esportivas.
Apenas em janeiro deste ano, cerca de R$ 3,7 bilhões saíram de contas de pessoas inscritas no programa em direção a administradoras de bets, segundo dados obtidos pelo órgão junto ao Banco Central.
Os auditores identificaram que parte das transações pode estar ligada ao uso indevido de CPFs de beneficiários.
O TCU apontou que 4,4% das famílias que realizaram apostas foram responsáveis por 80% do valor total movimentado — concentração considerada atípica e possivelmente associada a fraudes ou lavagem de dinheiro.
Suspeita de fraudes
Entre as 20,3 milhões de famílias atendidas pelo Bolsa Família em janeiro, 4,4 milhões — cerca de 22% — transferiram valores para casas de apostas.
Em casos extremos, uma única família movimentou R$ 2,1 milhões em um mês. Também foram registrados 663 casos de transferências entre R$ 100 mil e R$ 1,4 milhão.
Segundo o relator do processo, ministro Jhonatan de Jesus, os dados levantam a hipótese de que terceiros estejam utilizando CPFs de beneficiários para disfarçar ganhos ilícitos.
As informações foram encaminhadas ao Coaf, à Receita Federal e ao Ministério Público Federal.
O tribunal ainda determinou que o Ministério do Desenvolvimento Social e o Banco Central apresentem, em até 90 dias, um plano de ação para identificar e impedir fraudes no programa.
Apesar dos valores expressivos, o TCU destacou que boa parte das quantias apostadas retorna aos jogadores. Estimativas do Banco Central indicam um retorno médio de 85%, podendo chegar a 94% segundo a Secretaria de Prêmios e Apostas.
Considerando esse cenário, os auditores calcularam que apenas R$ 162 milhões — 1,1% das despesas do programa em dezembro de 2023 — podem ser considerados efetivamente comprometidos. A maioria das famílias envolvidas destinou menos de 2% da renda mensal a apostas, embora parte delas esteja endividada.
O Antagonista



