
O departamento de Estado dos Estados Unidos afirmou hoje que “a perseguição política a Jair Bolsonaro, seus familiares e apoiadores é uma vergonha e está muito aquém da dignidade das tradições democráticas do Brasil”.
A declaração foi dada por escrito em resposta a um questionamento do UOL sobre a postagem do presidente Donald Trump em que acusava as instituições brasileiras de um “caça às bruxas” político contra o ex-presidente brasileiro e exortou a Justiça brasileira: “Deixem-no em paz”.
A nota da diplomacia americana é mais um episódio na recente escalada de tensão política entre Brasil e EUA, que começou no domingo, quando Trump ameaçou tarifas adicionais de 10% a qualquer país que se alinhasse ao bloco Brics. A ameaça era uma referência à reunião no Rio de Janeiro dos chefes de Estado do grupo, que originalmente incluía Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul.

Na segunda de manhã, Trump fez sua primeira manifestação pública desde a posse, em janeiro em 2025, de apoio a Bolsonaro e de crítica ao processo judicial que o ex-presidente enfrenta. Bolsonaro é réu por, entre outros crimes, tentativa de abolição violenta do Estado de Direito, o que ele nega. Seu julgamento deverá acontecer ainda este ano.
O UOL apurou que o texto da postagem de Trump em favor de Bolsonaro não havia passado pelo Departamento de Estado, mas agora a diplomacia americana confirma o novo posicionamento em relação ao Brasil. “A declaração do Presidente é clara, e nós a ecoamos. Estaremos observando atentamente”, diz a nota do órgão.
Em resposta às declarações de Trump, ainda na segunda, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que as questões de política e Justiça domésticas não deveriam ser alvo de interferência estrangeira. “Esse país tem lei, tem regra e esse país tem um dono chamado povo brasileiro. Portanto, de palpite na sua vida e não na nossa”, disse Lula.
Mesmo antes da posse de Trump, bolsonaristas radicados nos EUA já trabalhavam para promover sanções do governo dos EUA contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, o relator dos processos contra Bolsonaro. O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro está nos EUA dedicado a obter sanções financeiras contra Alexandre de Moraes. O Departamento de Estado se recusou a confirmar se Moraes será alvo de alguma medida punitiva e remeteu a reportagem à Casa Branca. À coluna, o ideólogo trumpista Steve Bannon afirmou que Moraes será alvo “de severas sanções financeiras”, que devem se concretizar “em semanas”.

Até agora, porém, nenhuma medida concreta foi tomada contra o ministro brasileiro. O governo brasileiro já disse aos americanos que esse tipo de ação seria visto como um ataque a soberania do Brasil.
Hoje, o Departamento de Estado afirmou também que “Jair Bolsonaro e sua família têm sido parceiros sólidos dos Estados Unidos”. Não fez nenhuma menção aos mais de 200 anos de relacionamento de Brasil e Estados Unidos. A coluna procurou o Itamaraty para comentar o teor da nota do Departamento de Estado, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
UOL