Judiciário vê ‘teatro da anistia’ no Congresso e mantém cronograma

Enquanto Câmara e Senado encenam o chamado “teatro da anistia”, o Supremo Tribunal Federal mantém inalterado o cronograma que pode levar à condenação e prisão de Jair Bolsonaro entre setembro e outubro.
A expressão usada por um ministro do Tribunal Superior reflete o diagnóstico dominante no Judiciário: as movimentações de Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), presidentes da Câmara e do Senado, são vistas como gestos simbólicos para suas bases bolsonaristas, sem efeito prático.
Na última semana, o STF derrubou uma tentativa da Câmara de suspender o julgamento de Alexandre Ramagem, aliado de Bolsonaro, e do núcleo central da trama golpista do 8 de janeiro. Mesmo diante da derrota unânime na Primeira Turma, Motta recorreu ao plenário da Corte — recurso com chances praticamente nulas de prosperar.
Thais Bilenky apontou que “o que a cúpula do Judiciário está vendo, na verdade, é muito mais encenação”. Os projetos de anistia articulados por Alcolumbre e Motta — com base em trechos de votos de ministros como Barroso e diálogos com Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes — também enfrentam resistência de partidos como o PSD. “Tudo indica que o Supremo vai calibrando as penas por conta própria, sem depender do Congresso”, acrescentou a colunista.
Dois fatores poderiam alterar o curso do processo: um pedido de vista do ministro Luiz Fux ou a hipótese de Bolsonaro buscar asilo político em uma embaixada, como já admitiu. Fora isso, a tendência é de exclusão definitiva do ex-presidente da eleição de 2026 — cenário que estimula Tarcísio de Freitas a testar um discurso nacional. Segundo Bilenky, “ele está perdendo a timidez na mesma proporção em que fica claro que a anistia não passa de teatro”.