Maranhão segue sua realidade cruel e insustentável
O estado continua entre os mais pobres da nação e não vislumbra mudanças de sua realidade caótica a médio e longo prazo

O Maranhão concentra o segundo maior número de cidades insustentáveis do Brasil, é o que aponta um levantamento feito pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). O principal critério deste levantamento são municípios que não possuem receita própria suficiente para arcar com despesas administrativas.
A Firjan faz levantamentos periódicos para avaliação de dados que possam trazer maiores esclarecimentos sobre a realidade das cidades do Brasil e, assim, poder contribuir na proposição de soluções e políticas públicas viáveis para a população. Outros estudos de diversos institutos e órgãos especializados apontam para a mesma conclusão. A cidade menos desenvolvida do Brasil em 2025 é Ipixuna (AM), de acordo com o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) de maio de 2025.
Figuram também nesta lista de piores colocadas outras cidades do Norte e Nordeste, a exemplo de Jenipapo dos Vieiras (MA), Uiramutã (RR) e Jutaí (AM), todas com problemas drásticos similares como infraestrutura precária, falta de serviços públicos e baixa economia. Em 2005 o então diretor do Departamento de Planejamento Urbano do Ministério das Cidades, Benny Schasberg, na 6ª Conferência das Cidades, afirmou que estudos recentes da época apontavam que as cidades brasileiras são insustentáveis do ponto de vista social e predatórias no aspecto ambiental.
O Nordeste continua seguindo à frente nos piores indicadores de desenvolvimento, principalmente social, econômico e educacional. A região é historicamente castigada pela falta de políticas públicas e projetos que promovam avanços nas áreas mais estratégicas, o que amplia os problemas de falta de saneamento básico, evasão escolar, analfabetismo, saúde precária e falta de estrutura urbana. Todo este conjunto de mazelas fortalece a estagnação e mantém a população no subdesenvolvimento.
Estados nordestinos concentram os piores indicadores: Piauí (83%), Maranhão (82%) e Paraíba (78%) estão entre os que mais apresentam cidades insustentáveis. Já estados das regiões do Sul e Sudeste apresentam melhores índices, como Santa Catarina (0,3%), Rio de Janeiro (2%) e São Paulo (3%).
Não é surpresa tal situação, pois além de expor uma realidade caótica reflete que há uma incoerência na gestão pública na medida em a arrecadação nestas cidades não atende nem o mínimo para o custeio da estrutura municipal. Isso tudo configura uma consequência de anos, aliás décadas de má gestão, sustentada pelo populismo político, dependência excessiva de repasses federais que alimenta um mecanismo que tem no assistencialismo o instrumento eleitoral eficaz para perpetuação do poder político.
O atraso que vivem estas cidades demonstra que os recursos existem, pois o Brasil é um dos países de maior carga tributária e que mais arrecadam no mundo. O ponto central é a má administração dos recursos que são muito mal aplicados, além da corrupção sistêmica que piora os estragos existentes e agravam a estagnação social e econômica.
Na verdade não há muito o que dizer, mas sim fazer. Porém, este é justamente o ponto central: porquê nada foi feito até agora? Especialistas em gestão pública e analistas políticos alertam para o óbvio ululante de que a mudança dessa realidade passa por mudanças estruturais – o que envolve descentralização administrativa, responsabilidade fiscal e maior liberdade econômica. Só que o mais importante é colocar nesse conjunto de ações também a fiscalização da aplicação dos recursos públicos seguido de punição da má conduta administrativa dos gestores públicos (municipal, estadual e federal).
O que fica para a opinião pública é que tamanha catástrofe que castiga nosso país, em que os mais pobres são sempre os mais atingidos, serve apenas para ornamentar discursos políticos eleitoreiros que alimentam uma esperança inatingível.