O que havia no site do escritório Barci de Moraes, agora fora do ar

Desde por volta das 15h de quinta-feira, o site do escritório de advocacia Barci de Moraes, da esposa de Alexandre de Moraes, Viviane Barci, está fora do ar.
É possível que as sanções Magnitsky contra o casal tenham algo a ver com isso, pois o site usava o serviço de segurança digital Cloudflare, com sede nos Estados Unidos. Além disso, o vereador Rodrigo Marcial (Curitiba-Novo), segundo a Gazeta do Povo, disse que denunciou o site ao provedor de hospedagem para que este soubesse das sanções. O provedor é europeu, mas também opera nos EUA.
O Portal Claudio Dantas examinou arquivos do site disponíveis no serviço Internet Archive. Estão disponíveis clones do site entre os anos de 2017 e 2023. A partir de 2024, foi implantada uma verificação de robô que bloqueou o conteúdo para arquivamento.
Moraes tomou posse de seu cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal em 22 de março de 2017. Os arquivos mostram que o escritório usou um logo com suas iniciais, “AM”, até 2019 ou 2020.
Durante todo o período de seis anos, o escritório usou o mesmo texto de apresentação com erros de português:
“Sempre atentos [sic] à dinâmica jurisprudencial, doutrinária e legislativa, demonstrado [sic] pela intensa atividade docente e produção científica, o escritório se preocupa com o permanente aprimoramento de seu corpo jurídico tendo forte atuação nacional no consultivo e no contencioso e especialmente junto ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Ministério Público e Tribunais de Contas.”
Expansão e inclusão de Chalita e Mágino Barbosa
A firma de advocacia era enxuta em 2017: a equipe era de cinco pessoas, contando com Viviane. Em 2023, o quadro passou a conter 12 integrantes.
O advogado Gabriel Chalita, que foi deputado federal entre 2011 e 2015 e secretário de Educação de São Paulo na década anterior, acusado de autoplágio em 2012, entrou no escritório Barci de Moraes em 2019 e permaneceu.
Em 2020, passou a integrar a equipe estável Mágino Alves Barbosa Filho, ex-chefe de Moraes no Ministério Público de São Paulo. Mágino se aposentara no ano anterior, e havia assumido a cadeira de secretário de Segurança Pública de SP após a saída de Moraes, que na época assumiu o Ministério da Justiça de Temer.
No mesmo ano em que entrou no escritório, Mágino foi homenageado com sessão solene na Câmara de São Paulo, com presença de Moraes.
Também em 2020, passaram a trabalhar para o escritório os filhos do casal, Giuliana e Alexandre Barci.
Mudanças nas áreas de atuação do escritório
Da lista de áreas de atuação do escritório, foi removido em 2023 o item “Atuação no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais Superiores”. Também desapareceram as áreas “Eleitoral” e “Penal”, e foi adicionada a área “Família”.
Essas mudanças em 2023 são interessantes, pois era o ano de maior recrudescimento da atuação de Moraes após o 8 de Janeiro, quando ele comandou uma equipe de fichamento ideológico dos detidos dentro do TSE, como mostrou a Vaza Toga 2.
Entre outros membros do escritório, só em 2017 apareceu o desembargador aposentado Laerte José Castro Sampaio, o único que dividiu com Viviane a função de sócio-coordenador. Ele faleceu em 2021.
Armando Luiz Rovai fez parte do escritório somente em 2018. Ele havia sido secretário-adjunto e mais tarde titular da Secretaria Nacional do Consumidor no governo Michel Temer e presidente da Junta Comercial de São Paulo.
Em 2019, entrou Edmilson Firme Simão Júnior, filho de um promotor de Justiça aposentado e figura influente no Espírito Santo (o site não incluiu o “Júnior” de seu nome, mas a foto é de um homem jovem). A família tem propriedades rurais no norte capixaba, além de empresas agropecuárias, e existe um parque de exposições com o nome do patriarca na cidade de Montanha.
Em 2021, a revista Oeste noticiou que Viviane atuava como advogada com sua firma em 18 processos no STF. Não houve uma reação detectável no site do escritório.
Em 2022, entrou o promotor aposentado Olheno Scucuglia. Naquele ano, a revista Veja noticiou que Chalita estava cotado para ser ministro da Educação de Lula, após a vitória do petista nas eleições presidenciais. A previsão não se concretizou. A notícia pode ter motivado algumas das mudanças nas áreas de atuação declaradas no site do escritório no ano seguinte.
Blog Claudio Dantas