China disputa América Latina com EUA investindo bilhões em infraestrutura

Enquanto os Estados Unidos erguem barreiras comerciais contra aliados na América Latina, como a sobretaxa a produtos brasileiros, a China avança sobre o continente investindo bilhões em infraestrutura para intensificar sua presença na região. Depois de bancar o desenvolvimento do megaporto de Chancay, no Peru, o gigante asiático assinou um acordo para construir uma ferrovia que pretende ligar o litoral brasileiro ao porto peruano, reduzindo em 10 mil quilômetros o trajeto das exportações do país para a China.
O que aconteceu
Chancay e a ferrovia fazem parte da “Nova Rota da Seda”. Trata-se de um ambicioso projeto chinês de infraestrutura global para conectar diversos continentes e aumentar sua influência política e econômica no mundo. A China está bancando rodovias, ferrovias, gasodutos, oleodutos e projetos de energia limpa em mais de 150 países, onde vivem 62% da população mundial (incluindo a China).

É contra esse avanço que Trump pressiona aliados com tarifaços, como aconteceu ao Brasil. “A China está fazendo negócios na América Latina, como a oferta de tecnologia para furar a Cordilheira dos Andes e fazer a ferrovia bioceânica até Chancay”, diz Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM. “O que está em jogo é a hegemonia [sobre a região].”
Um dos principais projetos da China é o porto peruano. Ao custo de US$ 1,3 bilhão (R$ 7,1 bi), a primeira parte (30%) desse porto no distrito de Chancay, a 70 quilômetros de Lima, ficou pronta em apenas quatro anos. A acesso a ele por terra é através um túnel construído para não atrapalhar a pacata cidade de 60 mil habitantes.
O objetivo é claro: tornar Chancay o porto mais importante da América Latina. Inaugurado em novembro do ano passado, ele foi equipado com IA chinesa, que promete corrigir erros humanos para aumentar a eficiência. Guindastes elétricos e veículos autônomos circulam entre as antenas gigantes de 5G espalhadas pelo porto.

Os planos são terminar a obra em 2032, quando mais US$ 2,4 bilhões forem investidos. Desse total, 60% saem dos cofres da estatal chinesa de navegação Cosco Shipping, enquanto o restante é bancado pela mineradora peruana Volcan.
O engenheiro brasileiro Vinicius Marinelli visitou Chancay. Presidente do Conselho Federal de Engenharia (CFE), ele se surpreendeu com a velocidade da obra e a tecnologia empregada. “Chancay pode se tornar uma alternativa para rotas asiáticas, especialmente se os portos brasileiros não acompanharem os avanços tecnológicos e operacionais exigidos pelo mercado.”
UOL